Dilma Rousseff se reunió con Lula para analizar tensión con partido aliado
Insatisfação do PMDB é discutida por Lula e Dilma
A insatisfação do PMDB com o PT e o Palácio do Planalto, até então restrita ao grupo de deputados federais, chegou aos senadores e foi um dos temas discutidos ontem, em Brasília, entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Maior aliado do PT na coalizão dilmista, o PMDB tem ensaiado uma rebelião no Congresso e lidera a criação de um bloco «independente» de oito partidos na Câmara.
«Onde tem PT e PMDB, a presidente fica de um lado só [do PT]. Esse é um dos problemas. Os bombeiros terão que entrar em campo para apagar esse incêndio. O racha do partido é por causa do governo», disse o presidente do PMDB, o senador Valdir Raupp (RO).
Os principais focos de tensão estão nas montagens das candidaturas aos governos estaduais, especialmente no Rio e no Ceará.
No Estado, Dilma prioriza a candidatura que será defendida pelo governador Cid Gomes (Pros), que abandonou o PSB de Eduardo Campos para ser um dos principais sustentáculos da campanha da petista no Nordeste.
Hoje Raupp se encontrará com o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) para discutir saídas para o impasse.
Os peemedebistas também reclamam da demora na indicação do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) para o Ministério do Turismo e a escolha da pasta, que é da cota do PMDB da Câmara.
Parte da bancada do Senado considera que a posse de Vital no Turismo causará ainda mais atritos entre o PMDB da Câmara e o governo.
Anteontem, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), atacou publicamente o presidente do PT, Rui Falcão, tendo como mote a divergência entre as duas legendas na montagem dos palanques estaduais.
Segundo alguns peemedebistas, Cunha teve o aval do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) e do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
Além de buscar acertar com Dilma uma estratégia para acalmar o PMDB, o que, na visão de Lula, passa por atender deputados peemedebistas na reforma ministerial, ele e a presidente definiriam ontem detalhes da estrutura e equipe de campanha.
A reunião, realizada no Palácio da Alvorada, uma das residências oficiais de Dilma, começou às 17h30 e não constava da agenda presidencial. Às 19h37, o Instituto Lula postou no Twitter a informação do encontro, publicando foto da reunião em seu site.
Na imagem, Lula e Dilma, sorrindo, cumprimentam-se, num gesto que busca mostrar que não há problemas de relacionamento entre ambos.
Nos últimos dias, interlocutores do ex-presidente narraram críticas do petista ao estilo de governar de Dilma.
Na reunião de ontem seria definido o futuro do chefe de Gabinete de Dilma, Giles Azevedo, que deve ir para a campanha. Seu provável substituto deve ser Beto Vasconcelos, ex-secretário-executivo da Casa Civil.
A foto mostra, além de Lula e Dilma, o ministro Mercadante (encoberto pelo ex-presidente), o ex-ministro Franklin Martins, Rui Falcão (presidente do PT), Giles, Edinho Silva (presidente do PT paulista) e o marqueteiro João Santana.
PMDB ENFRENTA PT, CONVOCA BANCADA E AMEÇA ROMPER
A crise na aliança entre PMDB e PT ganhou novos capítulos neste feriado de carnaval. A origem foi a troca de críticas – que incluiu até xingamento – entre peemedebistas e o presidente do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão. Em estreia no Sambódromo, no Rio, Falcão falou sobre demandas feitas pelo partido do vice-presidente da República, Michel Temer, ao governo federal, citando o líder na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Como resposta, foi tachado de «vagabundo» pelo presidente do PMDB-RJ, Jorge Picciani.
Cunha rebateu no Twitter nesta terça-feira, avançando no tema: ressaltou a necessidade de «repensar» a aliança e disse que seu partido não é «respeitado pelo PT». O parlamentar escreveu ainda que «por onde passa o Rui Falcão, mais difícil fica a aliança» e descartou o interesse em indicar nomes para ocupar um novo ministério na reforma da presidente Dilma Rousseff. «Não me compare com o que o partido dele fazia no RJ,doido atrás de boquinhas (…). A bancada do PMDB na Camara já decidiu que não indicará qualquer nome para substituir ministros. Pode ficar tudo para o Rui Falcão», provocou.
O clima da aliança, que tantas vezes já sofreu a ameaça de ser rompida, claramente ficou mais tenso. Eduardo Cunha convocou para a próxima terça-feira 11 uma reunião da bancada. Hoje, também pelo Twitter, ele diminuiu o tom, mas voltou a falar que «a realidade dessa aliança, nos termos que estão, e debaixo de agressões, como as do presidente do PT, não atendem ao PMDB». O deputado afirmou que não seguirá a sua vontade, e sim a da maioria do partido, e que caberá à sigla tomar uma decisão. «Quando falei em repensar, não falei ainda em romper, e sim em rediscutir os termos dessa aliança, a qual não somos respeitados», escreveu.
Nesta quarta-feira de cinzas, a presidente voltou de Salvador, onde passou o carnaval descansando, para Brasília. Na capital federal, receberá o ex-presidente Lula para uma longa conversa. Temas a serem discutidos não faltam: definir a equipe de campanha, discutir o conflito entre governo e oposição na Venezuela e, claro, como não poderia deixar de faltar, a crise com o PMDB da Câmara.