Brasil: Club Madureira y Cuba, una relación de vieja data
Madureira a caminho de Cuba, mais uma vez
Madureira é o mais internacional dos times do subúrbio. Além das fronteiras delimitadas pelo Mercadão e pela Portela, o time fez história no século passado. Em seu centenário, a ser celebrado em 8 de agosto deste ano, o clube quer pôr mais um carimbo no passaporte. Ao comemorar 50 anos da primeira excursão de um time a Cuba pós-revolução, em 1963, uma camisa com a icônica imagem de Che Guevara foi criada em 2013. A homenagem rendeu convite do governo cubano para o Madureira voltar à ilha após o encerramento do Campeonato Carioca.
Sem fazer uma viagem internacional desde 1993, quando foi à Arábia Saudita, o time também não levantou grandes voos dentro do Brasil. Mesmo sem um título de expressão em 100 anos, o tradicional tricolor suburbano tenta manter a fama de clube formador de craques e opiniões. Ao disputar amistosos na China na década de 1960, abriu caminho para a Fifa aceitar a filiação do país, comandado, na época, pelo ditador Mao Tsé-Tung.
Em 2014, com um time formado por jovens da base, o Madureira quer resgatar a tradição de revelar jogadores para o Brasil e o mundo.
— Recebemos o convite do governo cubano para voltarmos este ano. A viagem poderá acontecer após o Carioca, como era costume. Precisamos definir como será o financiamento — revelou o presidente do Madureira, Elias Duba.
Invicto em havana
O fim dos campeonatos estaduais era o começo das excursões dos times brasileiros ao exterior. E o Madureira tem muitas horas de voo. É do clube o recorde de permanência em terra estrangeira de um time nacional. Em 1961, passou 144 dias entre Ásia, Europa e Estados Unidos. Foi o primeiro clube do Brasil a jogar no Japão e em Hong Kong.
Antes mesmo de o Brasil sediar sua primeira Copa (a de 1950), o Madureira desembarcava em Barranquilla, na Colômbia, em 1948. Levou na bagagem o talento do craque Didi, que encantou os colombianos. Waldo Machado, Evaristo de Macedo, Jair Rosa Pinto, Lelé e Isaías foram craques formados no clube.
— Era comum os clubes excursionarem na Europa, nas Américas. Queremos resgatar isso, assim como a nossa tradição de revelar jogadores, que sempre foi nossa marca. Tanto que o time para jogar o Carioca este ano não tem nenhum jogador famoso. Até estou negociando com dois. Mas será uma equipe formada por uma base sólida. O Madureira não sofre pressão para ganhar o campeonato, então pode fazer isto — disse Duba.
Também foi sem pressão que o Madureira visitou Cuba. Sem tradição no futebol, os times cubanos perderam os cinco jogos com o tricolor suburbano. Depois do juramento anticomunista, os jogadores embarcaram com alguns poucos pertences e muita disposição para fazer turismo na capital. Após um imprevisto no primeiro hotel, onde faltou água, a delegação mudou para um cinco estrelas, com pista de dança e outros mimos. Passearam e conheceram Havana sem restrição. Ao contrário da visita à China…
Em 1964, o Madureira foi a Pequim. Mao Tsé-Tung fez questão de cumprimentar o time e garantiu o conforto da estadia. Ao mesmo tempo, uma comissão de representantes do governo chinês estava no Brasil na tentativa de selar acordos bilaterais. Foi quando explodiu o Golpe Militar.
— Os chineses ficaram detidos no Brasil. E os brasileiros, na China. Só que os jogadores já haviam seduzido a China com o futebol e ficaram restritos a um hotel luxuoso, antes de serem liberados para viajar, enquanto os chineses no Brasil não tiveram o mesmo tratamento — afirmou Ronaldo Luiz Martins, historiador do Instituto Histórico Geográfico da Baixada de Irajá.
Em um trabalho conjunto com o historiador Carlos Henrique Silva, Ronaldo faz a pesquisa, recuperação de documentos e levantamento de dados para a publicação do livro: “Madureira Esporte Clube, Centenário de um Fidalgo”, que será lançado este ano.
A trajetória do Madureira também vai virar um documentário de 90 minutos, produzido pela Lótus Filmes/Monte Castelo Ideias. O lançamento será antes da Copa. Quando os olhos do mundo estiverem voltados para o Brasil, é natural que o Madureira queira um pouco de atenção da elite do esporte. É assim há 100 anos.
— Naquela época, o futebol era um esporte de elite, praticado pelos clubes da Zona Sul. Quando Madureira começou a deixar de ser um bairro rural para iniciar sua urbanização, pessoas ligadas ao Mercadão acharam necessário criar um time próprio da região. O resto é história — disse Ronaldo.
http://oglobo.globo.com/esportes/madureira-caminho-de-cuba-mais-uma-vez-11278347